Thursday 14 June 2012

Três anos de Canadá


Parece que já faz 10 anos e ao mesmo tempo sentimos como se a apenas alguns meses ainda estivéssemos morando no Brasil, mas nessa semana completamos 3 anos de Canadá. Em meio à rotina do dia a dia, aos poucos a gente acaba parando de pensar nessa mudança. O marco do aniversário é um bom momento pra parar e refletir sobre o tempo que estamos aqui.

O saldo é sem dúvida POSITIVO. Nossa qualidade de vida melhorou enormemente em vários aspectos. Tivemos melhoras na saúde por nos exercitarmos bem mais, e naturalmente. Realizei o sonho de viver numa cidade onde realmente posso andar de bicicleta. Aprendemos bastante com o convívio com outras culturas. Nossas habilidades em inglês e francês foram aperfeiçoadas da forma que só se consegue ao morar aqui. Conhecemos novos amigos e ajudamos algumas pessoas. Redescobrimos o valor de coisas tão simples como caminhar livremente sem ter medo de levar um tiro a qualquer momento. Batalhamos e estamos conseguindo o sucesso profissional merecido. E por aí vai.

Mas é claro que não existe lugar perfeito e se mudar pra Montreal teve lá seus problemas. Alguns dos pontos negativos da experiência até o momento são: distância dos velhos amigos e da família (o maior problema de todos na minha opinião), o gasto enorme do processo de imigração e mudança, a deficiência do sistema de saúde do Quebec e a luta pra se recolocar no mercado de trabalho. Não, eu não esqueci de citar o inverno como um dos pontos negativos. Acontece que eu fiquei positivamente surpreso com o fato de que o inverno rigoroso não é o bicho-de-sete-cabeças que tantos temem. Duas ou três cabeças talvez, pois incomoda sim passar meses e meses com neve na sua porta e tendo que usar agasalhos que mais parecem roupa de astronauta, mas o fato de se ter estações bem definidas muda totalmente o dia-a-dia, não necessariamente pra pior, e abre novas possibilidades de lazer e experiência de vida que não temos numa região tropical.

Enfim, mudar para o Canadá foi uma experiência única que mudou nossas vidas. Estou extremamente satisfeito com os resultados e não consigo mais me imaginar morando na pátria-mãe, por mais que eu ame muitos que ficaram por lá e tenha um carinho enorme por muita coisa da nossa terra. Eu sempre serei brasileiro, mas assim como eu nunca fui apenas carioca, cearense ou paraense (quem me conhece sabe do que estou falando), não sou apenas brasileiro, mas cidadão do planeta terra. Não importa tanto onde eu passe o resto da vida. Enquanto o lugar onde eu morar, trabalhar e pagar meus impostos me der o retorno que eu espero, continuarei por lá. Seja lá onde for.

Sunday 1 January 2012

Salgadinhos, o prato típico do brasileiro

Como primeiro post de 2012 resolvi aproveitar que estava preparando um post sobre o assunto para o meu outro blog e postar aqui também, já que salgadinhos parecem ser por unanimidade o prato que os brasileiros em solo canadense mais sentem falta. Coincidentemente, o programa Canadá direto, da Rádio Canadá, fez uma reportagem sobre a ceia dos brasileiros. Enquanto os canadenses comem Peru, batatas e ervilhas no Natal, os brasileiros comem feijoada, farofa, salgadinhos e pão de queijo. Quem quiser ouvir a reportagem clique aqui.

Mas voltando ao assunto, desde criança tenho lembranças de acompanhar minha mãe e minha tia fazendo salgadinhos. Essa é uma lembrança muito boa da minha infância, para mim era sempre um grande evento em que todas se reuniam na cozinha e ficávamos conversando enquanto fazíamos as coxinhas, bolinhas e rizoles até tarde da noite. Por conta disso nunca esqueci a receita e hoje é na minha cozinha que fazemos esses quitutes que os brasileiros tanto sentem falta por aqui. Como presente de Natal e Ano Novo resolvi postar a receita aqui para ajudar os imigrantes que queiram se aventurar na cozinha. É uma receita simples, mas um pouco trabalhosa.


Ingredientes:
  • 1 litro de leite
  • 1,5 kg de farinha de trigo branca
  • 2 tabletes de caldo de legumes (também pode ser de frango ou de carne)
  • 1 cebola pequena cortada em pedaços bem grandes (opcional)
  • 2 xícaras de salsinha ou cheiro verde cortados grosseiramente (opcional)
  • 3/4 xícara de manteiga
  • 1 colher de chá de sal
  • pimenta do reino a gosto

Para empanar:
  • 4 ovos
  • 1/3 xícara de leite
  • farinha de rosca

Preparo:

Bata metade do leite no liquidificador com a cebola, os tabletes de caldo de legumes e a salsinha. Misture com o resto do leite numa panela grande e leve ao fogo médio até levantar fervura. Adicione a manteiga, o sal e a pimenta. Quando estiver fervendo, baixe o fogo e adicione rapidamente 1 kg da farinha (ou o máximo que você conseguir), mexendo o tempo todo com uma colher de pau. Apague o fogo e leve a mistura para uma superfície bem enfarinhada. Você vai ter uma massa bem heterogênea. Adicione um pouco mais de farinha por cima da massa e comece a incorporar a farinha na massa ainda quente. Muito cuidado para não se queimar nessa hora, o que eu faço é pegar porções pequenas da massa e incorporar a farinha até que não esteja grudando nas mãos. Isso tem que ser feito com a massa ainda quente para que a farinha possa cozinhar no calor da mistura. Depois de tudo misturado você pode, se quiser, esperar a massa esfriar para fazer os salgadinhos. Nesse ponto eu já preparo a mistura para empanar. Bata os ovos com o leite e coloque num recipiente grande. Em outro recipiente, coloque a farinha de rosca. Costumo deixar tudo ao meu alcance na mesa para otimizar o processo.

Dessa vez eu fiz coxinhas e bolinhas de queijo. Nos dois casos eu sigo o mesmo protocolo para rechear, pego uma quantidade de massa e faço uma bolinha (isso é para garantir que eu terei uma quantidade parecida de massa em todos os salgadinhos). Com os polegares eu vou achatando a bolinha para formar um disco, coloco o recheio no meio e fecho o disco formando uma bolsinha. Por fim eu ajeito o formato dependendo se for bolinha ou coxinha. O tamanho dos salgadinhos vai a seu gosto. Essa receita rendeu 120 bolinhas de queijo e 100 coxinhas de frango. A medida que for fazendo os salgadinhos, molhe eles no ovo e empane na farinha de rosca. Eu costumo deixar acumular uns 30 no recipiente do ovo, e só daí empano de um por um na farinha de rosca e vou arrumando eles numa fôrma grande. Uma coisa que sempre faço é fritar logo os primeiros para saber se tenho que ajustar o sal. Depois de prontos você pode fritá-los em óleo quente até dourar, ou congelar para uma outra ocasião.

É isso. O mistério dos salgadinhos foi revelado. Quem fizer me mande fotos porque eu quero ver o resultado. Esse blog virou blog de culinária por um dia, mas fazer salgadinhos é uma parte importante da nossa vida de imigrante...





Saturday 24 September 2011

Cabelo, cabeleira, cabeluda...


Se você está preocupado(a) em como cuidar de suas preciosas madeixas em terras congeladas, confesso que os serviços de cabeleireiro aqui não são muito baratos. Mas não se preocupe, dificilmente você vai ficar deprimido(a) devido a um corte de cabelo mal feito. A maioria dos profissionais daqui estudou bastante para se tornarem cabeleireiros, e fazem isso por amor.


Da primeira vez que cortei o cabelo aqui em Montreal eu recorri ao "Cabeleireiro Amigo", um conhecido brasileiro que fez um precinho camarada e sabia exatamente o que eu queria. Mas depois (quando não consegui contactar o cabeleireiro amigo) resolvi dar uma chance aos profissionais daqui. Fui num salão bastante famoso no boulevard St. Laurent chamado Coupe Bizarre. Quando entrei no local pela primeira vez me assustei com as pessoas que trabalham lá. Achei todos os cabelos muito modernos para o meu gosto, mas resolvi dar uma chance e ver o que eles iriam me sugerir. Para minha surpresa o corte ficou maravilhoso. Custou caro, sim, mas eles souberam adaptar o corte ao meu tipo de cabelo e formato do rosto (para quem está curioso sobre o quanto custou - $42 sem a gorjeta, porque eu tenho desconto de estudante).


Desde então, já cortei o cabelo lá várias vezes e com várias pessoas diferentes. Não me arrependi nenhuma das vezes. Sempre saí satisfeita, com o cabelo cortado, lavado e escovado (ou enrolado). Da última vez cortei o cabelo com a Anne, uma quebecoise magrelinha, com o cabelo moicano, e que, segundo ela, só sabe cozinhar salada. Recomendo demais e com certeza voltarei.


Para quem pinta o cabelo realmente não sei o quanto custa, mas se eu pintasse o meu cabelo que precisasse de um trabalho mais profissional, com certeza eu faria lá.

Friday 9 September 2011

Communauto

Taí um negócio que NUNCA daria certo no Brasil. Recentemente fizemos um plano com esse sistema de compartilhamento de carros.


Como funciona?


Trata-se de uma ótima opção para quem não quer ter carro, mas que eventualmente precisa de um para fazer pequenas coisas, como ir no Costco (para comprar muita coisa) ou na Ikea, por exemplo.


Para ter acesso ao sistema é preciso fazer um plano anual, que varia de valor dependendo do quanto você acha que vai usar os carros. Existem três tipos, A, B ou C, e cada um desses planos atrela valores diferentes ao aluguel.


Existem várias estações espalhadas pela cidade, com carros disponíveis para aluguel. Se você precisa de um, você pode, por telefone, ou pela internet, ver a disponibilidade de carros nas estações próximas à sua casa, ou nas suas estações preferidas, e reservar para o período que você pretende usar. A tarifa é cobrada por hora (ou por dia, dependendo da sua necessidade) e por quilômetro. Eles possuem também tarifas para longas distâncias para quem quer fazer viagem mais longas (Tabela com preços).


Quando você faz o plano do Communauto eles te mandam uma chave mestre que abre as caixinhas pretas. Na hora de pegar o carro, você vai até a estação em questão e procura pela caixinha preta. Dentro dela estão as chaves de todos os veículos communauto na estação, com chaveiros contendo os números de identificação de cada carro.


Em cada carro existe um bloquinho em que a gente escreve o número do veículo, a quilometragem que o carro estava quando você saiu e a quilometragem de quando você voltou.


Pronto. Só isso. Não precisa falar com ninguém, nem colocar gasolina. Se precisar colocar gasolina, é só pegar a nota fiscal que eles descontam do valor final do aluguel. Todo mês a gente recebe uma fatura com o total usado no mês.


A gente está viciado nesse sistema, e o que mais me impressiona é que só funciona por causa da confiança. Recomendo muito mesmo! E para os empreendedores do Brasil, se quiserem tentar levar a idéia para aí, boa sorte!

Sunday 28 August 2011

Você percebe que se adaptou quando...

1. Não precisa mais de GPS para dirigir pela cidade.

2. As pessoas te param pedindo informação em Francês e em Inglês no mesmo dia e você não tem problema com isso.

3. Você ficou triste com a morte do Jack Layton.

4. Você vai para Oka beach e fica feliz de estar na "praia" mesmo não tendo água-de-coco.

5. Uma festinha com amigos reúne pelo menos 5 nacionalidades diferentes e ninguém é gringo.

6. Os pedintes de perto da sua casa te conhecem e trocam brincadeiras com você sempre que te vêem.

7. Bicicleta é um meio de transporte levado a sério.

8. Você  não liga de sair desarrumado na rua.

9. Toda a sua maquiagem é da MAC (para as meninas).

10. Picnic e churrasco no verão são suas atividades preferidas.

Sunday 12 June 2011

Era uma vez 3 verões...

Hoje estamos comemorando exatamente 2 anos de Canadá. :D


Mas esse post é pra falar mesmo sobre o verão montrealense. Todos que pensam em vir visitar a gente sempre falam que querem vir no inverno, mas a gente sempre insiste para vir no verão por uma razão muito simples: O verão daqui é inesquecível! Sim, o calor é infernal como você jamais pensou poder existir, mas o verão de Montreal é super divertido. Não estamos oficialmente no verão ainda, mas basta o primeiro raio de sol num dia de primavera de 38 graus para se declarar a chegada do verão.


Quando chegamos aqui há dois anos atrás não deu para sentir o impacto dessa estação na vida dos canadenses. Tínhamos acabado de chegar e  estávamos preocupados demais resolvendo os pepinos dos primeiros meses como imigrantes.


No nosso segundo verão já pudemos aproveitar melhor tudo o que a cidade tinha para oferecer, e foi muito muito bom. Fizemos memórias para o resto das nossas vidas, andamos de bicicleta, fomos no mercado Atwater, festival de jazz, Francofolie, Old Port, aproveitamos bastante tudo o que podíamos dessa cidade maravilhosa (me desculpe o Rio por pegar emprestado o adjetivo).


Hoje foi o grande premio de Montreal e estávamos lembrando da mesma época no ano passado, quando fomos para a ilha onde a corrida acontece e voltamos de bicicleta pelo canal Lachine com a prima Patrícia. Foi um dia maravilhoso. Hoje infelizmente choveu como eu nunca tinha visto chover por aqui, mas a lembrança do ano anterior ficou.


Agora o terceiro verão se aproxima e finalmente alguns familiares virão nos visitar! Temos tantos planos e tão pouco tempo... Essa época em que a cidade exala felicidade eu fico com muito mais saudades de todos que estão no Brasil. Queria poder viver isso com todos e fazer memórias que vão me acompanhar sempre.


E para terminar abruptamente esse post que não falou muito sobre nada, queria desejar feliz dia dos namorados para os que ainda comemoram hoje!

Thursday 19 May 2011

Conversa de metrô...

Voltando do laboratório hoje de tarde, eis que sento do lado de uma menino, no auge dos seus 4 anos de idade, numa conversa muito séria com sua mãe:


Menino: "Mãe, hoje eu me dei conta que eu sou muito sortudo."


Mãe: "Eu sei que você é sortudo meu filho, mas o que fez você descobrir isso?"


Menino: "A professora falou que em alguns países subdesenvolvidos - imagine uma criança de 4 anos tentando falar isso para ter noção da fofura - existem crianças da minha idade que não podem ir a escola brincar com outras crianças. Muitas delas têm que trabalhar em fábricas, fazendas ou pedir esmola para poder ter comida em casa..."


Mãe: "É verdade, filho."


Menino: "Mãe, a gente tem dinheiro e por isso eu vou a escola todo dia, certo?"


Mãe: "Sim, eu e o seu pai trabalhamos bastante para que você e seu irmão tenham tudo o que uma criança precisa..."


Menino: "Então, eu tenho um plano! Um plano muito bom. Deixa eu te falar... A gente pode ajudar essas crianças. Muita coisa que a gente compra a gente não precisa!! Eu não preciso de xampu! Sabonete é o suficiente. A gente pode trazer pelo menos umas duas crianças para morar naquele quarto do computador do papai, e elas vão poder estudar. A gente dá comida pra elas. Todo dia sobra comida na janta, sabia??"


Hauhauhuahuah!! Eu tive que sair do metrô nessa hora, mas a única parte dessa conversa em que dá para identificar que é uma criança de 4 anos falando é quando ele fala que não precisa de xampu para viver. Fico me perguntando se a mãe dele resolveu seguir o plano dele... Tomara que sim!